Governo quer aprovar base de dados de pedófilos no parlamento

Governo vai levar diploma ao parlamento, uma reivindicação do PSD, que alerta para a necessidade de respeitar "direito à privacidade". Vizinhos não terão acesso a dados 

O anúncio feito pela ministra da Justiça de que este ano quer avançar com uma base de dados de pedófilos foi recebido com cautela por todos os partidos - a começar pelo PSD, que concorda com a proposta, mas alerta, pela voz do coordenador na Comissão de Assuntos Constitucionais, Hugo Velosa, que é preciso "salvaguardar direitos fundamentais" e o "direito à privacidade". 

A proposta está ainda a ser desenhada pelo Ministério da Justiça e uma das questões mais delicadas é saber quais serão as entidades que poderão ter acesso a este registo, o que leva Hugo Velosa a defender que a "proposta terá de ir ao parlamento", ou seja, o governo não deve avançar com qualquer legislação que não passe pelo crivo dos deputados. Essa é a intenção do governo, averiguou o i, que quer tentar o maior consenso possível à volta de uma proposta sensível. 

Até porque, alerta o presidente da Comissão de Assuntos Constitucionais, Fernando Negrão, a proposta exige reflexão: "Vejo essa possibilidade de forma positiva, mas temos de nos rodear de cautelas devido aos abusos que isso possa suscitar." Sobre o acesso à base de dados, o ex--director da Polícia Judiciária defende ainda que "esses dados devem ser centralizados numa entidade" e que, por exemplo, as creches ou as escolas não devem ter acesso directo aos registos. 

Até agora são conhecidas apenas as linhas gerais da proposta que o governo está a preparar. Paula Teixeira da Cruz disse que o diploma contemplará "não apenas a criação de um registo de agressores sexuais", mas também "as formas e as condições de acesso a esse registo, por forma a assegurar que os já condenados pela prática desses crimes se encontrem referenciados pelas entidades policiais e por aqueles que têm responsabilidades directas na contratação de pessoas que lidam com crianças". 

VIZINHOS EXCLUÍDOS A possibilidade de os vizinhos dos condenados terem também acesso a este registo chegou a ser noticiada pela imprensa, mas o i sabe que essa hipótese nunca foi considerada no Ministério da Justiça. Neste ponto, o governo não segue a lei adoptada noutros países, como os Estados Unidos da América. A intenção é conseguir um "consenso generalizado", mas o PS - que quer conhecer a proposta em concreto para tomar uma posição definitiva - deixa já alguns avisos. "Depende muito da sua concretização. Pode ser altamente perigosa", diz o coordenador da Comissão de Assuntos Constitucionais, Pita Ameixa. Para os socialistas, trata-se de "um assunto muito delicado que implica grandes cautelas". À esquerda do PS, os comunistas, quando foi conhecida a proposta, condenaram a "estigmatização dos condenados" e o BE disse ter "muitas reservas"

Juristas têm reservas Tendo consciência da controvérsia em torno da proposta, Paula Teixeira da Cruz sublinhou que os conteúdos e as restrições de acesso àquelas bases de dados "variam de Estado para Estado", mas nem nesses locais são "consensuais". No mundo judiciário, a intenção da ministra está longe de colher apoios. Um juiz jubilado admite que o tema "não deve ser considerado tabu e deve ser discutido", mas "sem correr o risco de se partir logo da preferência por um dos lados". Ou seja, em vez de se privilegiar "a defesa dos direitos das crianças sobre a defesa do direito à privacidade e ao bom nome", devia procurar-se "uma solução que respeite os direitos de cada um". 

In: ionline
31/01/2014

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