Greve de inspetores ameaça resposta da Judiciária a crime violento

Um caso de homicídio depois das 18.00, um desembarque de droga imprevisto ou um roubo violento podem ter de esperar até ao dia seguinte, depois das 09.00 da manhã, para começarem a ser alvo da investigação da Polícia Judiciária (PJ), como consequência da greve aos serviços de prevenção, a partir da próxima quinta-feira. A direção nacional desta polícia falhou o acordo com a Associação Sindical dos Funcionários da Investigação Criminal (ASFIC), para garantir que as equipas de prevenção fossem incluídas nos serviços mínimos e não pudessem ser alvo da greve convocada por esta organização sindical.  

A ASFIC defende que esses casos podem ser tratados pelo "piquete", um serviço de atendimento 24 horas por dia, que existe em todos os departamentos da PJ, constituído por inspetores e peritos forenses.

São as "Equipas de Prevenção", disponíveis sempre fora do horário normal de trabalho, que na PJ é das 09.00 às 18.00, a garantir o serviço especializado na resposta a crimes mais graves. Só alguns departamentos as têm, como a Unidade de Combate ao Tráfico de Estupefacientes, a Unidade de Contraterrorismo e, nas diretorias, as brigadas que investigam homicídios, crimes sexuais e roubos.

Tudo o que tenha de ser feito neste âmbito, das 18.00 às 09.00 horas, portanto, buscas ou outras diligências podem ficar comprometidas se, como acredita a ASFIC, a adesão à greve for significativa.

Ao que o DN apurou, os responsáveis das unidades que podem ser mais afetadas informaram o diretor nacional, Almeida Rodrigues, sobre a necessidade de ter de fazer alguns ajustamentos nas operações planeadas, e vários horários de buscas começaram a ser alterados, pondo em risco o sucesso de algumas delas. Para os casos imprevistos, pode ter de ser chamada a PSP ou a GNR para garantirem a preservação das provas nos locais do crime, até a PJ chegar.

O presidente da ASFIC, Carlos Garcia, reconhece que esta greve "pode, de facto, prejudicar" a investigação dos crimes, mas explica que os investigadores "atingiram um ponto de saturação sem precedentes, com a de gradação contínua das suas condições de trabalho. Chegou a hora de dizer 'Basta!' e os inspetores estão decididos e unidos".

Este dirigente sindical lembra que a direção da PJ pode "colocar as pessoas da prevenção a trabalhar por turnos ou considerá-las em horas extraordinárias e assim ficam fora da greve. Não ficaria nenhum serviço por fazer".

A tensão entre os inspetores da Judiciária e a direção tem vindo a agravar-se e, até a relação da ASFIC com a tutela, que vinha sendo marcada por alguma habilidade da ministra Paula Teixeira da Cruz em conseguir manter a expectativa de corresponder às reivindicações sindicais, entrou em rutura.

O orçamento proposto para 2014, com cortes brutais nas despesas de funcionamento da PJ - como a ausência total de verbas para munições e corte de 76% nos combustíveis - fez esgotar a paciência dos investigadores. No 68.° aniversário da PJ, houve um sinal, inédito na história desta instituição, que demonstrou a exasperação dos inspetores: mais de dois terços dos melhores investigadores da judiciária, que deviam ter ido receber louvores, não compareceram.

Contactado pelo DN, o diretor nacional adjunto da PJ, Pedro do Carmo, não quis comentar os efeitos da greve. "Respeitamos o exercício do direito à greve", respondeu....

28/10/2013 

Sem comentários:

Enviar um comentário