Partidos na Assembleia estão a apresentar menos iniciativas. Cada vez apresentam mais recomendações do que projectos de lei
Os
primeiros cinco meses de 2011 foram meses loucos na Assembleia da
República. Todos os dias uma nova negociação, um novo projecto, uma nova
conferência de imprensa. Passados dois anos, os partidos reduziram (e
muito) o ritmo de apresentação de iniciativas legislativas (entre
projectos de lei ou recomendações) e até de apreciações dos mais
variados temas. Em 2011, os cinco maiores partidos com assento
parlamentar apresentaram um total de 388 iniciativas, nestes primeiros
meses de 2013 foram 268. PSD e CDS foram os que mais abrandou o ritmo. O
governo hoje legisla menos e recomenda mais.
Os partidos no
parlamento têm ao dispor uma ferramenta para produzir legislação: os
projectos de lei. E foram estes os que mais caíram entre os primeiros
meses de cada um destes três anos. Em números gerais, no ano de 2011
foram apresentados 142 projectos de lei, um número que baixou para 107
um ano depois e para quase metade, 87, em 2013. A queda é mais visível
se se tiver em conta os dados da maioria. Em 2011, quando PSD e CDS
estavam na oposição, os dois partidos apresentaram 56 projectos lei (46 o
CDS, 10 o PSD) até ao dia 22 de Maio de 2011. No mesmo período este
ano, entre iniciativas em conjunto e em separado, apresentaram apenas
sete projectos de lei. A queda é maior se se olhar para o CDS que
apresentou só um projecto independente neste período de 2013.
A
explicação está na cor do partido que está no governo. Olhando para os
três partidos do arco do poder a tendência é fácil de compreender:
quando estão no governo produzem menos propostas e chamam menos
iniciativas a debate, quando estão na oposição são mais activos no
parlamento tornando a Assembleia da República a sede preferida para a
afirmação da oposição. Mas mesmo assim os socialistas têm uma diferença
menor do que PSD e CDS. Em 2011 apresentaram 18 iniciativas e em 2013,
41. Em termos de projectos de lei até conseguiram apresentar menos um
projecto este ano (oito) do que os apresentados em 2011 (nove).
Se
há quebra na produção legislativa, há também nos projectos de
resolução, mas a quebra é menor pelo que o parlamento trabalha agora
mais sobre recomendações do que sobre legislação pura. Por dia é
apresentada pelo menos uma recomendação ao executivo de todos os seis
partidos (BE, PCP, PEV, PSD, PS e PSD). Nestes primeiros meses foram 171
contra 222 em 2011. Aqui os partidos da esquerda continuam a ser os
mais activos, mas só a maioria PSD/CDS (em conjunto ou individuais)
apresentaram 30 projectos.
Quantidade e qualidade
Mas a quantidade não reflecte nem a qualidade das leis nem a sua
natureza. O professor de Direito Penal da Universidade de Coimbra,
Manuel Costa Andrade, diz que "antes de se olhar para o número é preciso
perceber a natureza das leis" que foram apresentadas até porque "uma
coisa é fazer uma lei geral, outra fazer pequenas alterações"....
24/05/2013